sexta-feira, dezembro 25, 2009

Capítulo 4.

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3.




Capítulo 4.

Na quinta-feira tivemos outra tarde de estudos, esses cheios de tensão, porém sem nenhuma ação. Não que estivesse esperando alguma coisa, afinal só era a segunda vez que passávamos a tarde juntos, mas tudo vira uma arma em uma cabeça como a minha. Pensando nisso, eu e Júlia resolvemos tirar a tarde de sábado descansando na piscina de minha casa e analisando o que eu estava fazendo de errado, já que, para Jú, era óbvio que Flávio estava caidinho por mim.
Júlia estava deitada em uma das espreguiçadeiras próximas a borda da piscina enquanto eu estava na água.
-- Jú – gritou minha mãe – Tem visita para você.
-- Para mim? Na sua casa – sussurrou.
Sacudi meu ombro e voltei a mergulhar. Estava muito quente em Salvador e ainda nem era verão.
-- Prima! – ouvi o grito ao voltar à superfície. Estava saindo da piscina quando percebi o garoto alto e loiro que passava pela porta dos fundos, vindo em nossa direção.
Júlia levantou de um pulo e olhou para a minha cara assustada, começou a negar com a cabeça e seus olhos passavam a mensagem de que ela não tinha nem idéia de que seu primo tinha chegado. O garoto veio e a carregou em um abraço apertado.
-- Prima! Quanta saudade! Você continua linda!
Enquanto os dois se abraçavam, puxei a toalha que estava sobre a cadeira e envolvi o meu corpo, quanto menos ele visse de mim, melhor. Andando o mais rápido que podia sem ser notada, fui em direção a casa com passos firmes.
-- Elizabeth? Lisa? É você? – virou-se rapidamente o garoto, colocando a prima no chão e vindo em minha direção. Minha respiração ficou falha e logo fiquei vermelha. A vontade que tive foi a de dar uma resposta mal educada, mas para mostrar que era superior, dei uma resposta simples.
− Pois é, continuo sendo eu.
-- Que bom, fico feliz em te rever também.
E, inesperadamente, me abraçou. Mantive os braços presos paralelos ao corpo.
-- Espero que tenha uma boa estadia. – disse, finalmente, virando em direção a casa e seguindo para o meu quarto.
Não deu para deixar de notar o quanto ele tinha mudado fisicamente desde seus 14 anos. Ele sempre foi alto e loiro, mas também era bastante magricela e desengonçado. Usava óculos e era muito pálido, por conta de morar em um país tão frio.
Seu pai era brasileiro, porém havia ido morar na fria Londres pelo trabalho. Lá conheceu a esposa, que também era brasileira e tiveram o Rodrigo. Não era sempre que eles tinham a oportunidade de voltar ao Brasil, mas seis anos antes conseguiram umas férias de um mês e decidiram que já era hora do filho deles conhecer a família. O garoto sabia fluentemente ambas as línguas, mas sempre acabava escorregando no português por falta de prática. Quando chegaram ao país, mais exclusivamente a Salvador, foi uma alegria para todos. O pai do garoto era irmão do pai de Júlia e ele foi se hospedar com eles em sua casa. Por causa da proximidade, o fato de terem um filho quase da idade dos seus e a grande amizade que Júlia e eu já tinhamos, Rodrigo acabou sendo incorporado ao grupo das crianças sem maiores problemas.
As férias estavam sendo ótimas, Rodrigo estava menos pálido em comparação com seus novos amigos e começamos a simpatizar um pelo outro. Sempre quando tinha alguma dificuldade em encontrar uma palavra em português ele recorria a mim. Eu também era a única menina que me envolvia em todas as brincadeiras, já que Júlia estava muito ocupada com suas bonecas.
Certo dia, enquanto brincavamos de esconde-esconde, Rodrigo me arrastou para um esconderijo que, segundo ele, era impossível de ser encontrado. Como eu já gostava dele na época, me deixei ser levada.
-- Aqui ninguém encontra a gente – disse o garoto, me colocando atrás de si.
-- Tudo bem, eu confio em você – respondi corando.
Sem pensar muito no que estava fazendo, ele virou-se e baixou a cabeça, roubando um beijo meu. Esse foi o meu primeiro beijo.
-- Eu gosto de você – sussurrei sem pensar
-- Também gosto de você - respondeu Rodrigo, enquanto sorriamos um para o outro. Ficaram assim durante algum tempo até que alguém nos encontrou.
Posso dizer que até então, aquela foi a melhor semana que eu já havia tido. Todos os dias saíamos escondidos e corríamos até o parquinho, lá ficávamos de mãos dadas em silêncio. Tudo ia bem até que, certo dia, enquanto estávamos sentados no balanço, um grupo de garotos que costumávamos brincar passou e nos viu tão perto um do outro. Sem mais nem menos eles começaram a fazer piadinhas.
-- Olha só! O Rodrigo está namorando com a bola rosa.
Ao ouvir isso, Rodrigo levantou de um pulo e me empurrou para o lado, o que causou minha queda, dizendo em seguida:
-- Me larga sua baleia! O que é agora, não consegue se levantar sozinha?
E se juntou com os outros meninos. A semana que estava perfeita se transformou em um pesadelo. Fiquei tão arrasada que sai para casa chorando e me tranquei no quarto. Durante toda a última semana da estadia do garoto, não sai mais de casa, independente de todos os pedidos que Júlia fez.

Mesmo depois de seis anos, ainda me sentia abalada na presença dele. Foi o primeiro e último garoto que admiti gostar. Em seu quarto, procurou por uma bermuda e uma blusa e fui para o banho.
-- Liz? – Entrou Júlia – Tudo bem?
Eu já estava deitada na cama, com o óculos no rosto e um livro no colo.
-- Estou sim, ele já foi?
-- Não sei, deixei ele conversando com o Lucas. Ele disse que veio aqui para te ver.
-- Está atrasado seis anos, sinto muito. – disse sem tirar a vista do livro.
-- Vamos lá, Lisa! Ele pelo menos está tentando se desculpar... Faz uma forcinha?
-- Não.
Antes que Júlia pudesse começar a argumentar, o meu celular começou a tocar.
-- É o Flávio – disse, com cara de espanto – O que será que ele quer? Será que esqueci algo no carro dele?
-- Você só vai saber se atender! – disse Júlia.
-- Alô?
-- Liz gatinha, tudo bem?
-- Tudo sim, e com você?
-- Melhor agora... E aí? Vai fazer o que agora à noite?
-- Oh meu Deus! – disse encarando Júlia e tampando o telefone com as mãos – ele está perguntando o que vou fazer agora à noite!
-- Responde logo, então!
-- Não tenho nada programado... Por quê?
-- Ah, é que eu gostaria de saber se não estava a fim de ir ao cinema, como pagamento pela semana de estudo.
-- Por mim, tudo bem.
-- Legal, te pego aí às 20h?
-- Tudo bem.
-- Beijos, até logo.
-- Até...
--OH MEU DEUS! Vamos logo te arrumar!

Depois de alguns minutos na frente do guarda-roupa, a roupa escolhida foi um vestido não muito curto preto de alcinhas que havíamos comprado juntas na terça-feira, com uma sandália rasteira de tirinhas que combinavam perfeitamente com o vestido, deixando a imagem leve e confortável. Júlia saiu correndo e foi em casa buscar um par de brincos e colar que, segundo ela, era o que faltava para tornar tudo harmônico. Fiz uma maquiagem e secamos o meu cabelo ruivo. O trabalho foi demorado porém, preciso admitir, eu estava linda. Peguei um casaquinho leve e arrumei a bolsa.
-- E aí? Como estou?
-- Linda. Ele vai babar.
-- Cruze os dedos por mim...
Descemos as escadas sorridentes. Já nem lembrava mais da minha chateação de cedo, nem reparei nas duas pessoas nos encaravam da sala.
-- Cabeça, vai para onde toda produzida assim? Pediu minha permissão?
Virei para responder, percebendo que ele não estava desacompanhado.
-- Você está linda, Liz. – falou Rodrigo, sem conseguir piscar.
-- Meu nome é Elizabeth e vou esperar Flávio lá fora – falei virando para Júlia.
-- Você não foi um pouco dura com ele, Liz? – disse enquanto saiamos.
-- Não quero falar sobre isso. Só quero saber de Flávio. Ponto.
Não se passaram nem 5 minutos quando um carro esporte estacionou na rua. A respiração de nós duas parou. De dentro do carro saiu Flávio, ainda com os cabelos molhados caindo sobre os olhos, com uma calça jeans preta e uma blusa pólo azul escuro. Já não respirava e nem piscava, só para não perder aquela imagem.
-- UAU – sussurrou Júlia em meu ouvido – Boa sorte!
Disse e saiu em direção a própria casa.
-- Boa noite Liz – se aproximou Flávio beijando-me no rosto – pronta para ir?
Decidida a não mais ficar escondida, respirou fundo.
− Sempre.

segunda-feira, dezembro 21, 2009

Capítulo 3

Capítulo 1
Capítulo 2
continuando:

Capítulo 3.

-- MENTIRA! EU SOU A ZORRA DE UMA PSIQUICA! EU PREVI ISSO! E VOCÊ ME CHAMOU DE LOUCA! – gritava Júlia dentro do quarto de Lisa.
-- Shhhhhh... Fala baixo! O resto da minha família não precisa saber que você é insana! Apesar deles já desconfiarem.
-- Certo...Mas você está feliz, não é?
Ficando corada pela milésima vez no dia, respondi apenas com um sorriso e um aceno de cabeça. Júlia, então, atravessou o quarto e me abraçou
− Estou tão feliz. É sua chance de sair desse casulo. A partir de amanhã, faremos uma reforma no seu guarda-roupa. – disse sorrindo – amiga você tem que parar de se enxergar como o monstro que acha que é. Você é linda, inteligente, interessante... Dê mais valor a si mesma.
Sem saber o que responder, encarei meus próprios pés. Sou insegura, sempre soube. Não sou do tipo de pessoa que se deixa envolver facilmente, nem de permitir que os outros cheguem perto o suficiente. Porém eu estava tão feliz naquele momento, apesar de ter consciência de que era injustificada, que até me permitir a ter esperanças de que o garoto estava demonstrando qualquer tipo de interesse por mim. Percebendo a indecisão que se formava na minha cabeça, Júlia resolveu que não deixaria que aquela faísca de segurança se apagasse.
-- Deixa disso, Liz. Sei o que está passando em sua cabeça. Para de ser tão pra baixo. Eu sei que você está com medo, mas em algum momento vai ter que permitir que alguém ultrapasse essa sua barreira. E nada melhor que o gostoso do Flávio.
-- Tem razão, Jú. – disse a abraçando – A partir de agora, vou ser uma pessoa diferente... Pelo menos não deixarei que as pessoas percebam que estou com medo.
-- Ótimo. Aproveitando a oportunidade, já que está tão corajosa... Lembra do meu primo Rodrigo? Aquele que mora na Inglaterra?
Claro que lembrava. Havia sido o primeiro garoto que beijei. Ocorreu enquanto estávamos escondidos, brincando de esconde-esconde aos meus 12 anos de idade. Sempre marquei aquele como o meu primeiro amor, apesar do que aconteceu ao final da sua estadia pois, quando os meninos da rua suspeitaram de algo, ele simplesmente me humilhou na frente de todos, chamando-me de baleia.
-- É, lembro – soltei o abraço e virei meu rosto para longe de Júlia.
-- Liz, não fica assim. Já faz tanto tempo isso, aposto que ele nem se lembra mais.
-- Claro, pois ele não foi o humilhado.
--Poxa, amiga. Vou fazer de tudo para vocês nem se encontrarem, certo?
-- Não! Assim você vai ser obrigada a ficar com ele esse mês e depois vai ficar mais três meses longe! Ele que não chegue perto de mim! Vou dar um gelo tão forte nele, que ele vai pedir para voltar para a Inglaterra. Agora que decidi não me deixar levar pelas opiniões alheias, não vai ser ele a me colocar para baixo!

Logo cedo, na terça-feira, Júlia entrou como um furacão no meu quarto.
-- Acorda Bela Adormecida! Hoje você vai deixar de ser sapo para se tornar uma princesa!
-- Acho que está confundindo os contos de fada, sua louca-insana-despertador-de-pessoas-inocentes. – Disse, com o rosto enfiado no travesseiro.
-- Pois vai ser essa louca insana aqui que vai te deixar irresistível para aquele pedaço de mau caminho. Enquanto eu separo umas roupas para você tome esse café.
Só então senti o cheiro gostoso que vinha do meu criado-mudo, a caneca fumegante estava ali apenas me esperando.
-- Garota! Como é que nunca percebi que você só usa trapos??? Não tem UMA única roupa que preste aqui! Sua sorte é que trouxe umas peças coringas comigo. Se tivéssemos o mesmo corpo, seria tão mais fácil...
-- Se tivéssemos o mesmo corpo eu seria uma mion, sem problemas de espelho.
-- Ah, cale a boca e vista isso.
-- Posso tomar um banho primeiro?
-- Tá – respondeu já voltando a fuçar o guarda-roupa.

-- Viu só? Você está linda!
-- Estou ridícula.
Encarei o espelho. Não posso dizer que estava linda, mas a combinação de roupas que Júlia havia me arranjado era realmente legal, até me senti mais bonita. Ao invés das velhas calças cargo, estava de saia, com uns cintos coloridos meio jogados. Com uma blusa preta lisa justa, com alguns colares de prata e brincos. A maior façanha de todas foi ela conseguir arrumar meu cabelo com tão poucas coisas, ele estava penteado e a franja arrumada e, para completar o visual, uma fina camada de maquiagem no rosto.
-- Está muito óbvio, Júlia! Ele sempre me viu largada.
-- E daí? Dá um tempo, garota! Uma hora você vai ter que mudar!
-- Você está certa.
-- Claro que estou... E não se esqueça, te busco hoje na casa dele para irmos às compras.

Passei toda a manhã ansiosa. Mas em certos momentos até me senti bem. Uma garota me parou para dizer que tinha curtido os meus cintos. Depois das aulas, fui para a frente do prédio do meu instituto esperar por Flávio. A vontade que tinha era de roer todas as unhas da mão.
--UAU! Você está linda, garota! – disse ele se aproximando e me dando um abraço – Tem programa para depois, é?
-- É, mais ou menos... Vou sair com a Jú.
-- Sim, claro... Então vamos?

A casa de Flávio era enorme. Um enorme jardim na frente, uma piscina no fundo, dois andares, flores sobre a garagem... Tudo era um charme.
-- Vamos estudar na piscina? – perguntou ele – lá é mais confortável...
-- Por mim, tudo bem – respondi.
-- Só vou trocar de roupas, tudo bem? Você pode ir até lá, a mesa do almoço já deve ter sido posta.
Quando voltou, estava com uma blusa de algodão cru, sem estampas e uma bermuda jeans bastante surrada.
-- Pronta para o almoço?
-- Vamos lá!

A tarde foi cheia. Estudamos muito, a todo momento Flávio fazia algum movimento para que nossos braços ou pernas se tocassem. Sem saber como agir, apenas ficava vermelha e fingia que não era comigo.
-- Nossa... Isso foi intenso. – sorriu o garoto.
-- É, e a tendência é piorar, meu caro.
Caímos na risada.
-- Que horas sua amiga vai passar por aqui?
-- Umas 17h, alias, ela já deve estar por aí.
Cinco segundos depois, apareceu a empregada dele informando que uma garota chamada Júlia estava na portaria.
-- Bem, acho que já vou.
-- Tá, claro. Eu te levo até a portaria...
-- Não precisa, sério!
-- Nada disso, faço questão!
Fomos caminhando em silêncio, até que alcançamos o carro de Júlia.
-- Então é isso – disse Flávio me abraçando e beijando o meu rosto – até logo.

quinta-feira, dezembro 17, 2009

Capítulo 2.

Antes leia o CAPÍTULO ANTERIOR
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-- Fala sério, amiga! Você TEM que falar com o cara! – tornava Júlia a repetir pela milésima vez enquanto íamos de carro para a faculdade. Mesmo estando na direção, a garota pouco prestava atenção a pista, virando-se constantemente para me encarar no banco de carona – Ele perguntou por VOCÊ!
-- Caramba, Júlia! Presta atenção na pista e não, não vou falar com ele só por causa disso, alias, nem papo com o garoto eu tenho! A gente pega duas matérias juntos e só. Outra coisa, ele faz engenharia elétrica, deve se achar o maioral por isso... E eu não gosto de pessoas assim!
-- Nossa, garota! Fica calma, só quero te ver feliz, ao invés de enfurnada dentro de casa durante as férias... Eu vou viajar, passar três meses fora, como vai se virar sem mim? Ficando em casa com um livro durante todo o tempo? Deprimente, simplesmente deprimente!
Para calar a sua boca, optei por ligar o som. Sempre tínhamos um momento de loucura quando escutávamos som no carro. Enfiei um CD dos Beatles no CD player, então começamos a cantar muito alto. A cada sinaleira que parávamos, os carros em volta ficavam encarando as duas garotas que cantavam e dançavam sentadas em seus acentos. Na verdade, já recebemos várias cantadas fazendo isso. Quando entramos no campus, Júlia estacionou próxima ao seu prédio, enquanto eu me preparava para caminhar até o meu.
-- Pelo menos não seja grosseira com ele – insistiu.
-- Eu nunca sou grosseira!
Eu percebi o olhar de descrença dela e logo completei.
-- Tá, prometo que ninguém morrerá hoje.
Ela me abraçou e assim nos despedimos.
-- Boa sorte, ranzinza! – Gritou, já distante, Júlia.
Eu já estava de costas, mas fiz um aceno com a mão só para mostrar que tinha ouvido. Segui em direção do prédio em que pegava a matéria, parecia uma grande caixa de concreto, com linhas grosseiras e nem um pouco convidativas. Fui praticamente me arrastando em direção a sala de aula.
-- Liz? – ouvi uma voz forte atrás de mim.
-- Oi Flávio – disse, com uma falsa animação – como foi de final de semana? Preparado para a prova?
Eu sempre podia contar com a minha imaginação quando encontrava com o cara. Não dava pra deixar de reparar que o garoto era bom. Alto, cabelos negros, iguais aos olhos e sobrancelhas grossas. As linhas do seu rosto eram harmônicas e combinavam perfeitamente com o seu queixo. O corpo parecia ter sido feito especialmente para fazer a cabeça das mulheres se virarem em sua direção. Bastava ele se aproxima que cenas em praias desertas apareciam em minha mente. Por conta de tanto magnetismo, eu ficava completamente desconcertada em frente dele.
-- Foi bom, encontrei aquela sua amiga na casa do Renan, não sabia que ela também o conhecia.
-- Pois é, na verdade ele foi nosso vizinho há alguns anos atrás e tornamos a nos encontrar aqui na faculdade.
-- Pô, super legal - ele parou e coçou a cabeça - Então gata, posso te pedir um favor?
-- Acho que sim, se não envolver nada de ilegal, beleza – sorri com inocência.
-- Na verdade, é um pouco ilegal sim... – falou, enquanto passava a mão nos cabelos grossos que caiam sobre seu rosto – É que quase não estudei esse fim de semana por causa de minha mãe, só me livrei dela ontem à noite, quando fui para a festa e tal... Daí estou perdidinho para a prova de hoje... Queria saber se não teria como me passar suas respostas para que eu possa copiar... Eu faço qualquer coisa por você... QUALQUER COISA.
A última frase ele falou me segurando pelos ombros e encarando o fundo dos meus olhos. Apesar do que disse a Jú,, eu tinha uma queda pelo garoto, na verdade, quase um precipício. Com o sangue subindo de uma só vez para o rosto, não consegui negar.
-- Tudo bem, mas não sente muito afastado, vou fazer o que posso.

A prova estava mais fácil do que imaginei. A minha noite de sábado foi, definitivamente, mal utilizada. Tratei logo de passar a limpo e, discretamente, passei a folha de rascunhos para o Flávio.
-- Valeu, gata.
Ao sair da sala, o professor virou para mim e me chamou. Tremi na possibilidade dele ter visto minha pequena trapaça com o Flávio. Respirando fundo, fui até sua mesa:
-- Foi bem, senhorita Banterli?
-- Sim senhor, tive um pouco de dificuldade na 7ª questão, mas acho que foi tudo certo.
-- Muito bem, então. Nos vemos à tarde.
Ele ainda sorriu para mim. Saí cheia de culpa, o pior seria ter que encará-lo pela tarde, já que ele havia me arranjado um trabalho de monitoria que contaria pontos para mim, fora que ele vivia repetindo que eu tinha futuro na área da física.
Ao terminar a prova, Flávio veio correndo e, para a minha surpresa total, me carregou como se não pesasse nada.
-- Gata, você é demais! Pode deixar que eu pago seu almoço!
-- Não precisa, sério mesmo, não me custou nada te ajudar. De qualquer forma, marquei almoço com meu irmão, ele vai passar aqui para me buscar.
-- Você é que sabe, algum outro dia vamos eu e você almoçar, certo?
-- Tudo bem, por mim.
Com um beijo no rosto, nos despedimos. Fiquei um tempo parada olhando ele se afastar, definitivamente um pedaço de mal caminho.
O resto da manhã passou tranquilamente, até o horário de almoço.
-- Hey cabeçuda! – gritava Lucas do outro lado do estacionamento – Não está me vendo aqui não? Vamos logo que também tenho aula a tarde!
Lucas, o orgulho da família. Também, foi o único que se propôs a realizar o desejo de nossos pais de ter um médico na família. Não que eu reclame, é ótimo não ter o peso dos pais sempre dizendo o que fazer. Eu devia dar mais crédito ao garoto, ele parecia levar tudo muito bem.
Marcamos para comprar o presente para a comemoração do aniversário de casamento dos nossos pais que seriam em duas semanas. Pensamos durante muito tempo sobre o que dar, no final decidimos por uma viagem. Eu pagaria uma parte e ele a outra.
-- Maninho! – pulei para alcançar sua bochecha e dando um beijo no local - Não quer fazer isso sozinho não?
-- Você está é louca, eles são NOSSOS pais.
-- Mas você é o favorito.
-- E você é a “menininha”, apesar de não se vestir ou portar como uma.
Encarei a realidade e olhei minhas vestes: uma calça cargo caqui, uma blusa pólo branca e os surrados Converses não ajudavam na imagem.

-- Professor Santos!
Gritei enquanto corria para alcançar o professor que saía do prédio. A escolha do destino para meus pais tinha demorado mais que o previsto. Quando o alcancei, apoiei as mãos no joelho, tentando falar e respirar.
-- Des.. Des.. Desculpa a demora – ofegava.
-- Tudo bem, só sai para buscar um café... O rapaz que eu quero que você dê monitoria ainda não chegou.
-- Ufa... ok. Será apenas um?
-- Sim, senhorita. Como falta um mês para o final do semestre, ele pediu que eu indicasse alguém para ajudá-lo nas provas finais. Como você foi a que se mostrou mais apta na matéria, resolvi tudo.
Ajeitei a da mochila nas costas e acompanhei o professor para dentro da sala. Posso chamar de tumba, pois não era um ambiente nada agradável. Uma sala grande, com várias cadeiras em fila. Tudo parecia ser marrom. Até a forma como a luz entrava pelas janelas era chato.
-- Vocês não precisam estudar sempre por aqui, estou oferecendo a sala caso não encontrem um lugar mais interessante.
Eu não conseguia me imaginar passando mais que cinco segundos naquele lugar, mas antes que eu pudesse dar uma resposta educada ao professor, alguém passou pela porta e se aproximou.
− Desculpa professor! Peguei um tremendo trânsito para chegar.
Claro que fiquei muda. Não podia contar com a sorte de encontrar com o garoto duas vezes no dia. Flávio entrou olhando para mim e eu não conseguia para de encará-lo.
“Consigo imaginar vários lugares melhores de se estudar com ele do que aqui... meu quarto é um bom exemplo”. Comecei a divagar enquanto o professor tornava a repetir o porquê de ambos estudarem juntos e sobre o uso da sala.
-- Lisa?
Devo ter acordado após a terceira vez que Flávio chamou meu nome. Posso dizer que estava divagando algo que envolvia eu, ele, a mesa do professor e nada de roupas. Corada pelos pensamentos, tornei a olhar para ele.
-- Desculpe-me, estava desligada com outras coisas.
-- Tudo bem, estava falando com o professor que nós poderíamos estudar em minha casa mesmo, já que pela tarde não tem ninguém por lá.
“OHMEUDEUSOHMEUDEUSOHMEUDEUSOHMEUDEUS”
-- Tudo bem, por mim.
-- Então tudo certo, quero os relatórios toda semana até o final do mês. Assim posso acrescentar os créditos para você – conclui o professor, enxugando a testa.
Saindo da sala, o garoto puxou Lisa pela mão e a arrastou até um dos bancos.
-- Nós dois novamente, hein gata? Acho que somos uma dupla de sucesso e isso em apenas um dia.
-- É, acho que sim.
Minha cabeça estava explodindo. Pegar algumas matérias estava tudo bem, estudar com ele todo dia, sozinha, na casa dele... Isso era muito. Até semana passada ele só era um objeto de meus sonhos e agora ele era um amigo próximo? As coisas não poderiam melhorar.
-- Então – continuou ele – podemos estudar pela tarde uns dois dias na semana. Você pode almoçar lá em casa mesmo. Depois eu te deixo em casa, tudo bem?
-- Certo, acho que sim. Você quer começar amanhã mesmo?
Ele se virou e encarou meus olhos.
-- Perfeito.

domingo, dezembro 13, 2009

Capítulo 1.

Mudei o texto, coloquei em primeira pessoa:
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Início

Domingo, o pior dia da semana.
Fato conhecido por qualquer pessoa. Normalmente você está cansado demais para acordar cedo por causa do sábado a noite, e não pode aproveitar até tarde pois tem que acordar cedo na segunda-feira. E esse era mais um dia para mim. Abri meu olhos e encarei a escuridão. Não podia dizer se era cedo ou tarde por causa das grossas cortinas na janela. “Já devem ser umas 10h”, pensei encarando o teto. Levantei e calcei minhas pantufas cor-de-rosa, puxei uma manta que estava sobre minha poltrona e me enrolei. Estava usando apenas uma blusa de propaganda com a logo da loja de meu pai. Esse era o meu pijama, já que a blusa de algodão era confortável e pensar em usar alguma outra coisa no calor de Salvador era, praticamente, impensável.
Com cara de poucos amigos, me arrastei até o banheiro para lavar o rosto. Minha noite de sábado não havia sido uma das mais promissoras. Minha super balada se resumiu a livros de física e litros de café. O problema é que não conseguia tirar da cabeça a tal da prova de Física I no dia seguinte, por causa disso, acabei por ir dormir muito tarde.
“Mãe do céu! Quem é você?” – Tudo o que consegui pensar no momento que encarei o espelho do banheiro. A imagem realmente não era inspiradora. Olheiras e um amontoado de cabelos vermelhos apontando para todos os lados.
“legal, sou o cruzamento de um leão com um panda, que sonho de consumo”
Ainda analisando os estragos da noite de estudos no espelho, meu irmão gêmeo (sem nenhuma noção de espaço) entrou no banheiro já fazendo uma bagunça.
− Que zorra é essa?! Quer me matar do coração? Liz, você está horrível! Parece o cruzamento mal feito de um panda com um leão! – Completou rindo.
− Rá rá... Eu mesma já tinha pensado nisso. Precisa melhorar suas piadas, cabeçudo.
− Que nada, minhas piadas ainda estão ótimas, você que não sabe apreciar as coisas bonitas da vida – disse já tirando o pijama e ficando de cueca.
− Hey! Eu não quero te ver pelado! E eu entrei primeiro aqui, o banheiro é meu por direito!
− Não gostou? Me processe. – E assim terminou mais uma de nossas discussões. Não querendo ficar traumatizada pelo resto da vida, sai do banheiro e voltei ao meu quarto. Lucas é muito diferente de mim. Voltei a me jogar na cama, joguei a manta de volta na poltrona e peguei meu celular para olhar as horas, acendi o visor.
7 horas.
“MAS QUE ZORRA É ESSA?!?! POR QUE ESTOU ACORDADA ÀS 7H DA MATINA EM UM DOMINGO? Era para eu ter desconfiado... Lucas TEM que acordar cedo hoje, já que prometeu para papai que ia buscar a vovó no aeroporto... Por que eu levantei mesmo??”
Sério, preferia mil vezes virar a noite estudando do que ter que levantar cedo, fora que, caso minha mãe descobrisse que já estava em pé, viria me buscar com várias atividades que levariam toda a manhã embora. Analisando minhas opções, tornei a puxar meu lençol e voltei a dormir.

Capítulo 1.

− Lisa? Lisa? Lisa? Lisa?
Definitivamente, acordar na base de cutucões não eram a melhor forma de melhorar meu humor. Mas eu já sabia quem era, são 10 anos sendo atormentada no dia de domingo pela mesma pessoa (desde que seus pais a deixaram sair para brincar comigo).
− Bom dia, Júlia. Se eu disser que várias palavras feias surgiram na minha mente, você vai embora? – Respondi sem abrir os olhos.
− Como se você não repetisse essa ameaça a o que? 10 anos?
− É por aí.
Sentei na cama e cocei os olhos, voltei a buscar o relógio para ter certeza de que meu humor não iria melhorar.
− Sério que ainda são 8 horas? Poxa, Jú! Você sabe que minha mãe vai encarnar para eu levar o bichano para a rua!
Bichano era o cachorro da família. Nada original no nome, mas uma gracinha de Beagle.
− Nada mais justo, ele é seu!
− Negativo... Se trata de uma guarda compartilhada. É meu E do Lucas. Só que sempre sobra para mim fazer isso. Já não basta durante a semana? É a obrigação dele pelo menos nos finais de semana.
− Tá, que seja, mas ele foi buscar sua avó no aeroporto. Vamos, tome um banho e desça, tenho algo que quero te contar...
Um pouco mais animada do que às 7 da manhã, voltei me arrastando para o banheiro enrolada na manta. Não adiantava encarar o espelho novamente, pois já sabia o estado que deveria estar. Tirei a roupa e ajustei a temperatura do chuveiro para frio. Entrei de vez para lavar o cabelo. Terminado o banho, fui tentar com uma força sobre-humana desembaraçar seu cabelo. Ele não era comprido, passava um palmo do ombro. O problema é que não era liso o suficiente para desembaraçar só no olhar, nem cacheado o suficiente para ficar bonito mesmo sem passar um pente nele. Ele não tinha forma, era ondulado e formava uns pequenos “dreads” nas pontas quando não desembaraçava direito.
“Devo estar uma bagunça” – pensei enquanto terminava de passar pela cabeça uma camiseta azul com a frase “I S2 physics” na frente. Nada criativa para uma caloura no curso de Física da Universidade Federal da Bahia, afinal, apenas pessoas que REALMENTE gostavam do tema se atreviam a fazer o curso. Me enfiando em uma bermuda jeans velha que, originalmente, era uma calça de meu irmão e calçando o já surrado, diga-se de passagem, All star, passei pela cozinha e carreguei a coleira de Bichano.
-- Não vai comer, Lisa?
-- Quando voltar, mãe.
Bichano saltitava em minhas pernas, as arranhando com suas unhas finas e dificultando o trabalho de passar a coleira pela sua cabeça.
-- Fica quieto, coisa!
Milagrosamente, o cachorro obedeceu e tudo ocorreu mais tranquilamente. Saí de casa com Bichano pulando em minha frente, indo em direção a rua.
-- Vamos Jú! Quero saber a história que tem para me contar... - gritei em quanto era arrastada pelo cachorro.
Moravamos em um condomínio fechado que mais parecia um interior planejado. Tinhamos todo o tipo de comércio ali: padarias, mercadinhos, lanchonetes, farmácias... Dava para passar muito tempo sem ter que ir até a "civilização". Naquela hora da manhã a rua encontrava-se praticamente vazia, apenas alguns corajosos que saíram para comprar pão ou o jornal, ou aqueles que, como nós, tinhamos que levar nossos cachorros para fazer suas necessidades. Andamos por uns 5 minutos e Júlia não abria a boca para falar. Dava para perceber que ela estava ansiosa para dizer, mas só se eu desse o braço a torcer primeiro.
--Vamos, Júlia! Libera logo o que você quer dizer... Para de ficar me enrolando...
-- Tá, mas promete que não vai ter um ataque ou coisas do tipo.
-- Tá, que seja..
--Diga que promete! – Insistiu a garota
-- Tá, prometo! Nossa...
-- Você que pediu - começou com um sorriso - Ontem teve a festa na casa do Renan, aquela que você fez o favor de me abandonar. por causa de uma prova de não-sei-o-que-chato. Por isso tive que ir sozinha. Enfim, chegando lá, fui procurar algum rosto amigo, só para não ficar muito deslocada. E me bati com advinha quem?
--Eu pedi sem enrolação...
--Certo, mas você está de mau humor hoje, hein? Sem falar que essa sua combinação de roupas está deprimente.
Nós eramos opostas em tudo. Enquanto eu sempre fui a CDF de óculos, estudante de física, alta, desengonçada, sem senso de moda, eterno mau humor e sem traquejo social, Júlia era a linda, morena estudante de comunicação social, antenada em todas as tendências e fofocas, que deslizava ao invés de andar e cercada de amigos. O engraçado é que já nos conhecemos sendo diferentes, mas mesmo assim ficamos inseparáveis. Tudo começou quando seus pais se mudaram para casa ao lado da minha. Eu estava brincando com meu irmão na rua de bolo de lama (jogávamos um no outro) e ela chegou, toda limpinha em um vestido branco enquanto Lucas e eu já estávamos de terra até a alma. Meu irmão, por força do sexo, provavelmente, não contente em me sujar, decidiu que a nova vizinha também deveria entrar no "bolo", por isso jogou uma mão cheia no vestido da garota. Por pena, eu bati nele e fui ajudá-la a se limpar. Ela estava com lágrimas nos olhos e, segundo conta nossas mães, eu abracei ela e disse
-- Fica triste não, quando lavar fica limpinho, eu prometo, viu?
Depois disso ela vinha todo dia em minha casa para brincarmos. Foi aí que eu aprendi a brincar de Barbie e ela a jogar bola. Depois disso, começamos a frequentar o mesmo colégio e não nos desgrudamos mas. Até para a universidade iamos juntas. Era uma amizade única, já que havia sobrevivido até os 18 anos.
--Júlia... – Insisti – Anda logo com a conversa, meu cabelo já está ficando branco...
-- Ok, Ok... Enfim, me bati com aquele seu “amigo” - disse, fazendo aspas com as mãos - o tal do Flávio, aquele totalmente-excepcionalmente-unicamente gostoso que pega umas matérias com você.
--Primeiro, ele não é meu amigo, nem meu “amigo” – disse, fazendo as mesmas aspas no ar – Ele é apenas um garoto que pega umas matérias comigo.
-- Tá, que seja, mas ele é gostoso e seu eu tivesse a oportunidade, agarraria ele sem pestanejar. Mas continuando., me bati com ele na festa e acabou me reconhecendo, claro que choquei, né? Você me apresentou a ele tem um século e ele se lembrou de mim.. Fiquei logo entusiasmada! CLARO que não pularia feito uma louca naqueles braços fortes, ou arrancaria uns beijos daquela boca rosada, mas se ele desse uma oportunidade... – disse, sonhadoramente, acordando logo em seguida – O que, de fato, não aconteceu. Só me reconheceu como sua amiga, fato histórico, diga-se de passagem, pois é muito mais natural o contrário. Porém o mais surpreendente não foi isso! Ele simplesmente virou para mim e perguntou onde VOCÊ estava e porque também não estava na festa! Daí eu contei que você estava em casa tentando ser uma pessoa melhor, estudando para a prova e tal,. Ele virou e falou: “poxa, que pena, queria que ela estivesse aqui” e saiu, me deixando lá pasma!
-- Era isso que queria me contar?
-- Era! – Respondeu quase gritando – Você não está feliz? Não está vendo quantas possibilidades???
-- Feliz pelo quê? Ele estuda comigo e eu sou uma pessoa relativamente legal de se conversar, não vejo porque me empolgar como se o cara estivesse loucamente apaixonado por mim ou coisas do tipo...
-- Você é uma chata, Elizabeth! Nossa... O cara está com uma queda por você e é assim que reage? Eu mal dormir esperando para contar a notícia!
-- Você pode ter mal dormido, mas não me use como desculpas para isso... alias, que horas você dormiu? Quando eu deitei, seu carro ainda não tinha chegado..
-- Isso não vem ao caso, apesar de que eu devo ter deitado umas 4h da manhã...
-- Sério? Como você consegue?? Você está com cara de quem dormiu durante uns três anos e está completamente relaxada! - Tentei mudar de assunto, sempre funcionava. Bastava elogia-la que logo esquecia qual era a discussão.
-- Ah! Eu durmo com uns saches de chá gelado no olho... EI! NÃO MUDE DE ASSUNTO!
-- Não estou mudando... - "Droga, ela percebeu"
-- Claro que está... ah... deixa pra lá, você é chata. Vamos voltar para casa, pois sua avó já deve estar aí e eu espero que carregada de doces... De qualquer forma, Bichano não tem mais o que tirar aí de dentro.
Depois de jogar no lixo todo resíduo gerado pelo cachorro, fomos em direção a minha casa. O grande Toyota Land Cruiser amarelo do Lucas já estava estacionado na porta. Eu não tinha carro. No período que passamos no vestibular, nossos pais pediram para que escolhêssemos: o dinheiro ou o carro. O meu "carro" está totalmente guardado em uma conta poupança.
-- Vai entrar, Jú?
-- Não... Depois vou aí dar um beijo na vó.
Abri a porta que dava para a sala e tirei a coleira de Bichano, que mal via a hora para beber os litros de água que tinha no seu pote no fundo da casa. Me dirigi para a cozinha, para lavar meu rosto e mãos e, só depois, e procurar minha vó.
-- Aqui está a minha princesinha! – Disse a senhora de aparência simpática. Baixinha e roliça, com cabelos brancos curtinhos e um grande sorriso no rosto.
--Vó!! Que saudade!
Corri e a abracei, ela mal alcançava meu ombro.
-- Como foi de viagem? Alias, como foi à vinda do aeroporto até aqui? Lucas dirige como um louco!
--Não diga isso, meu anjinho foi super prudente me trazendo.
--É isso mesmo, e dirijo super bem, sua cabeçuda. – Retrucou o garoto entrando pela porta da cozinha – Vó, ela não perde a chance de me atazanar!
-- Deixem disso garotos. Vocês são irmãos, não briguem.
-- Sim vovó – dissemos em coro.
Bastou que vovó virasse para eu enfiar a mão na cabeça dele. Segurando o grito, ele virou-se para mim.
-- AU! – disse apenas fazendo o movimento dos lábios..
Alguns segundos depois, vovó retornou a cozinha com meus pais no seu encalço.
-- E então, vamos tomar café da manhã juntos ou não?
-- Mas já são 10:30, mãe – disse papai olhando para o relógio em cima da geladeira.
-- Não importa, quero tomar café da manhã com todos, o almoço pode atrasar.
Cada um escolheu uma cadeira naquele arejado cômodo e tomaram café felizes da vida.

quarta-feira, dezembro 09, 2009

Eu não sou uma amiga ruim.

Posso não ser das melhores, mas sempre estou para aqueles que precisam de mim. Sou "meio" meiguinha, compreensíva e ótima ouvinte, mas não tenho vivência o suficiente para dar conselhos.

Posso falar sobre senso comum, sobre verdades conhecidas e até citar grandes pensadores em momentos de crises. Mas quando uma amiga vira e me pergunta coisas sobre relacionamentos, eu vou perder o chão.

Desde sempre, todos aqueles que conviveram comigo souberam que eu era assim, mas sempre caía nesse tipo de tópico.

Até então, nada de grave aconteceu: utilizei frases de efeito e falei sobre o que o mundo acha correto. Até hoje.

Inocentemente sentada em minha cama, com o laptop no colo e sem nada para fazer, entrei no msn e comecei a conversar com uma das garotas que considero "melhores amigas". Sempre conversamos sobre a vida dela (a minha nunca tem nada mesmo) e essa noite não seria diferente.

Realmente gosto de falar sobre como as coisas estão na vida dela (já disse: sou ótima ouvinte).

Enfim, o tema de hoje não foi diferente no conteúdo, mas chega um certo ponto que não se tem o que falar e, quando cheguei aí, meu verbo desparou.

Primeiro que ela começou perguntando se eu poderia ajudá-la. Claro que sim - respondi, mas o que vinha em seguida me fez pensar melhor.

Ela está com problemas com o namorado/não namorado e me pediu conselhos, não sabe se quer firma e coisas do tipo.

Eu tenho minha opinião formada a muito tempo, porém não queria magoá-la. Deixei o papo rolar, perguntei se ela realmente gostava dele e se a opinião alheia importava...

Mas chega um momento que cansa... e eu tive que falar...

E isso não está me fazendo bem...

já fiquei triste, e repensei minha vida (olha porque não gosto de falar sobre essas coisas: sempre vejo como minha vida é medíocre)

Enfim... precisava escrever

peace

quarta-feira, dezembro 02, 2009

Férias

Não, não é o livro da Marian Keyes...

É, provavelmente, meu status na faculdade (tudo depende de uma única matéria - Química Analítica)...
Enfim, ontem foi minha (provavel) última prova e aconteceram coisas inacreditáveis nela.
É bastante óbvio para quem me conhece que sou uma pessoa tapada, do tipo que não pesca. Sempre proferi a frase: "prefiro tirar meu zero com orgulho do que um 10 sem saber nada", mas a realidade é que nunca pesquei por medo. MUITO MEDO. Covarde de carteirinha que sou, sempre tive um pé atrás para esse tipo de coisa ilícita.
Mas enfim, ontem me libertei!


Narrativa by eu mesma:
Era uma terça-feira, última prova do semestre. Toda uma classe de estudantes de cabeça baixa sobre folhas soltas de caderno tentando resolver questões impossíveis para entregarem ao professor ao final da prova valendo ponto. A matéria? Fenômeno dos Trasnportes, conhecida por tirar o sono das pessoas mais tranquilas. O assunto? Alguma coisa muito complicada e que 90% dos alunos nem sabia para onde corria e os 10% que sabiam de algo, na verdade apenas decoraram o que o professor havia passado em sala de aula.
Foi nesse contexto que aquela garota entrou na sala. Conhecida por sua ansiedade, entrou parecendo outra pessoa. Ao invés de estar preocupada, chegou sorridente. Ao indagarem o motivo, ela prontamente respondia:
-- O que vier, é lucro!
Algum E.T. abduziu aquela garota e a trocou por esse modelo? Bem, para aqueles que acreditam nessa teoria, até que tem lógica. Mas a verdade é que ela tinha passado uma tarde cheia e, ao final desta, ouviu sábios conselhos de sua chefe.
Mais cedo, naquele dia...
A garota de alcunha Karen (apenas para familiares), depois de suas obrigações como estagiária, foi conversar com sua chefe que contava como era no seu tempo de faculdade e de todos os métodos que utilizava para passar e pegar "pescas". Nunca tendo sido adepta da arte, a garota escutou atentamente todas as informações.
Voltando para a sala...
Karen não foi a prova com a intenção de colar, mas estava mais tranquila, o que ela não sabia, podia conseguir.

O professor entrou na sala, todos foram para seus lugares. Ele era conhecido por ser "mangueado" (mas isso é para uma outra história). Entregou as provas para cada um e passou as folhas de rascunho para trás e foi aí que aconteceu o estalo!
"pegue duas folhas de rascunho, garota!"
Sua consciência falou, ela obedeceu.
Ao olhar a prova, viu que não tinha nada impossível nela. Se acalmou e respondeu ambas as questões. Não tinha certeza do conteúdo, mas algo dizia que ela havia se dado bem.
Com a segunda folha de rascunho, anotou todas as questões, passo a passo, e passou para a frente, sem medo de ser feliz.
Ao sair da prova, a garota ouviu inúmeros "Obrigado" de pessoas que ela nem sabia o nome.
Para tudo na vida a uma primeira vez. Até para pescar...
Que sentimento ótimo!