quinta-feira, dezembro 17, 2009

Capítulo 2.

Antes leia o CAPÍTULO ANTERIOR
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-- Fala sério, amiga! Você TEM que falar com o cara! – tornava Júlia a repetir pela milésima vez enquanto íamos de carro para a faculdade. Mesmo estando na direção, a garota pouco prestava atenção a pista, virando-se constantemente para me encarar no banco de carona – Ele perguntou por VOCÊ!
-- Caramba, Júlia! Presta atenção na pista e não, não vou falar com ele só por causa disso, alias, nem papo com o garoto eu tenho! A gente pega duas matérias juntos e só. Outra coisa, ele faz engenharia elétrica, deve se achar o maioral por isso... E eu não gosto de pessoas assim!
-- Nossa, garota! Fica calma, só quero te ver feliz, ao invés de enfurnada dentro de casa durante as férias... Eu vou viajar, passar três meses fora, como vai se virar sem mim? Ficando em casa com um livro durante todo o tempo? Deprimente, simplesmente deprimente!
Para calar a sua boca, optei por ligar o som. Sempre tínhamos um momento de loucura quando escutávamos som no carro. Enfiei um CD dos Beatles no CD player, então começamos a cantar muito alto. A cada sinaleira que parávamos, os carros em volta ficavam encarando as duas garotas que cantavam e dançavam sentadas em seus acentos. Na verdade, já recebemos várias cantadas fazendo isso. Quando entramos no campus, Júlia estacionou próxima ao seu prédio, enquanto eu me preparava para caminhar até o meu.
-- Pelo menos não seja grosseira com ele – insistiu.
-- Eu nunca sou grosseira!
Eu percebi o olhar de descrença dela e logo completei.
-- Tá, prometo que ninguém morrerá hoje.
Ela me abraçou e assim nos despedimos.
-- Boa sorte, ranzinza! – Gritou, já distante, Júlia.
Eu já estava de costas, mas fiz um aceno com a mão só para mostrar que tinha ouvido. Segui em direção do prédio em que pegava a matéria, parecia uma grande caixa de concreto, com linhas grosseiras e nem um pouco convidativas. Fui praticamente me arrastando em direção a sala de aula.
-- Liz? – ouvi uma voz forte atrás de mim.
-- Oi Flávio – disse, com uma falsa animação – como foi de final de semana? Preparado para a prova?
Eu sempre podia contar com a minha imaginação quando encontrava com o cara. Não dava pra deixar de reparar que o garoto era bom. Alto, cabelos negros, iguais aos olhos e sobrancelhas grossas. As linhas do seu rosto eram harmônicas e combinavam perfeitamente com o seu queixo. O corpo parecia ter sido feito especialmente para fazer a cabeça das mulheres se virarem em sua direção. Bastava ele se aproxima que cenas em praias desertas apareciam em minha mente. Por conta de tanto magnetismo, eu ficava completamente desconcertada em frente dele.
-- Foi bom, encontrei aquela sua amiga na casa do Renan, não sabia que ela também o conhecia.
-- Pois é, na verdade ele foi nosso vizinho há alguns anos atrás e tornamos a nos encontrar aqui na faculdade.
-- Pô, super legal - ele parou e coçou a cabeça - Então gata, posso te pedir um favor?
-- Acho que sim, se não envolver nada de ilegal, beleza – sorri com inocência.
-- Na verdade, é um pouco ilegal sim... – falou, enquanto passava a mão nos cabelos grossos que caiam sobre seu rosto – É que quase não estudei esse fim de semana por causa de minha mãe, só me livrei dela ontem à noite, quando fui para a festa e tal... Daí estou perdidinho para a prova de hoje... Queria saber se não teria como me passar suas respostas para que eu possa copiar... Eu faço qualquer coisa por você... QUALQUER COISA.
A última frase ele falou me segurando pelos ombros e encarando o fundo dos meus olhos. Apesar do que disse a Jú,, eu tinha uma queda pelo garoto, na verdade, quase um precipício. Com o sangue subindo de uma só vez para o rosto, não consegui negar.
-- Tudo bem, mas não sente muito afastado, vou fazer o que posso.

A prova estava mais fácil do que imaginei. A minha noite de sábado foi, definitivamente, mal utilizada. Tratei logo de passar a limpo e, discretamente, passei a folha de rascunhos para o Flávio.
-- Valeu, gata.
Ao sair da sala, o professor virou para mim e me chamou. Tremi na possibilidade dele ter visto minha pequena trapaça com o Flávio. Respirando fundo, fui até sua mesa:
-- Foi bem, senhorita Banterli?
-- Sim senhor, tive um pouco de dificuldade na 7ª questão, mas acho que foi tudo certo.
-- Muito bem, então. Nos vemos à tarde.
Ele ainda sorriu para mim. Saí cheia de culpa, o pior seria ter que encará-lo pela tarde, já que ele havia me arranjado um trabalho de monitoria que contaria pontos para mim, fora que ele vivia repetindo que eu tinha futuro na área da física.
Ao terminar a prova, Flávio veio correndo e, para a minha surpresa total, me carregou como se não pesasse nada.
-- Gata, você é demais! Pode deixar que eu pago seu almoço!
-- Não precisa, sério mesmo, não me custou nada te ajudar. De qualquer forma, marquei almoço com meu irmão, ele vai passar aqui para me buscar.
-- Você é que sabe, algum outro dia vamos eu e você almoçar, certo?
-- Tudo bem, por mim.
Com um beijo no rosto, nos despedimos. Fiquei um tempo parada olhando ele se afastar, definitivamente um pedaço de mal caminho.
O resto da manhã passou tranquilamente, até o horário de almoço.
-- Hey cabeçuda! – gritava Lucas do outro lado do estacionamento – Não está me vendo aqui não? Vamos logo que também tenho aula a tarde!
Lucas, o orgulho da família. Também, foi o único que se propôs a realizar o desejo de nossos pais de ter um médico na família. Não que eu reclame, é ótimo não ter o peso dos pais sempre dizendo o que fazer. Eu devia dar mais crédito ao garoto, ele parecia levar tudo muito bem.
Marcamos para comprar o presente para a comemoração do aniversário de casamento dos nossos pais que seriam em duas semanas. Pensamos durante muito tempo sobre o que dar, no final decidimos por uma viagem. Eu pagaria uma parte e ele a outra.
-- Maninho! – pulei para alcançar sua bochecha e dando um beijo no local - Não quer fazer isso sozinho não?
-- Você está é louca, eles são NOSSOS pais.
-- Mas você é o favorito.
-- E você é a “menininha”, apesar de não se vestir ou portar como uma.
Encarei a realidade e olhei minhas vestes: uma calça cargo caqui, uma blusa pólo branca e os surrados Converses não ajudavam na imagem.

-- Professor Santos!
Gritei enquanto corria para alcançar o professor que saía do prédio. A escolha do destino para meus pais tinha demorado mais que o previsto. Quando o alcancei, apoiei as mãos no joelho, tentando falar e respirar.
-- Des.. Des.. Desculpa a demora – ofegava.
-- Tudo bem, só sai para buscar um café... O rapaz que eu quero que você dê monitoria ainda não chegou.
-- Ufa... ok. Será apenas um?
-- Sim, senhorita. Como falta um mês para o final do semestre, ele pediu que eu indicasse alguém para ajudá-lo nas provas finais. Como você foi a que se mostrou mais apta na matéria, resolvi tudo.
Ajeitei a da mochila nas costas e acompanhei o professor para dentro da sala. Posso chamar de tumba, pois não era um ambiente nada agradável. Uma sala grande, com várias cadeiras em fila. Tudo parecia ser marrom. Até a forma como a luz entrava pelas janelas era chato.
-- Vocês não precisam estudar sempre por aqui, estou oferecendo a sala caso não encontrem um lugar mais interessante.
Eu não conseguia me imaginar passando mais que cinco segundos naquele lugar, mas antes que eu pudesse dar uma resposta educada ao professor, alguém passou pela porta e se aproximou.
− Desculpa professor! Peguei um tremendo trânsito para chegar.
Claro que fiquei muda. Não podia contar com a sorte de encontrar com o garoto duas vezes no dia. Flávio entrou olhando para mim e eu não conseguia para de encará-lo.
“Consigo imaginar vários lugares melhores de se estudar com ele do que aqui... meu quarto é um bom exemplo”. Comecei a divagar enquanto o professor tornava a repetir o porquê de ambos estudarem juntos e sobre o uso da sala.
-- Lisa?
Devo ter acordado após a terceira vez que Flávio chamou meu nome. Posso dizer que estava divagando algo que envolvia eu, ele, a mesa do professor e nada de roupas. Corada pelos pensamentos, tornei a olhar para ele.
-- Desculpe-me, estava desligada com outras coisas.
-- Tudo bem, estava falando com o professor que nós poderíamos estudar em minha casa mesmo, já que pela tarde não tem ninguém por lá.
“OHMEUDEUSOHMEUDEUSOHMEUDEUSOHMEUDEUS”
-- Tudo bem, por mim.
-- Então tudo certo, quero os relatórios toda semana até o final do mês. Assim posso acrescentar os créditos para você – conclui o professor, enxugando a testa.
Saindo da sala, o garoto puxou Lisa pela mão e a arrastou até um dos bancos.
-- Nós dois novamente, hein gata? Acho que somos uma dupla de sucesso e isso em apenas um dia.
-- É, acho que sim.
Minha cabeça estava explodindo. Pegar algumas matérias estava tudo bem, estudar com ele todo dia, sozinha, na casa dele... Isso era muito. Até semana passada ele só era um objeto de meus sonhos e agora ele era um amigo próximo? As coisas não poderiam melhorar.
-- Então – continuou ele – podemos estudar pela tarde uns dois dias na semana. Você pode almoçar lá em casa mesmo. Depois eu te deixo em casa, tudo bem?
-- Certo, acho que sim. Você quer começar amanhã mesmo?
Ele se virou e encarou meus olhos.
-- Perfeito.

2 comentários:

  1. Espero o capítulo 3.
    "Engenharia eletrica" kkkkkkkkkkkkkkkk

    Gostei Liu.

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  2. Olá.......Conheci seu blog pelo meu amigo Alex. Apesar do texto grande, li sem cansar um segundo, você é uma profissional, espero pela parte 3, Parabéns, abraços!


    Laerte Lopes
    www.laerte-lopes.blogspot.com

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