domingo, dezembro 13, 2009

Capítulo 1.

Mudei o texto, coloquei em primeira pessoa:
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Início

Domingo, o pior dia da semana.
Fato conhecido por qualquer pessoa. Normalmente você está cansado demais para acordar cedo por causa do sábado a noite, e não pode aproveitar até tarde pois tem que acordar cedo na segunda-feira. E esse era mais um dia para mim. Abri meu olhos e encarei a escuridão. Não podia dizer se era cedo ou tarde por causa das grossas cortinas na janela. “Já devem ser umas 10h”, pensei encarando o teto. Levantei e calcei minhas pantufas cor-de-rosa, puxei uma manta que estava sobre minha poltrona e me enrolei. Estava usando apenas uma blusa de propaganda com a logo da loja de meu pai. Esse era o meu pijama, já que a blusa de algodão era confortável e pensar em usar alguma outra coisa no calor de Salvador era, praticamente, impensável.
Com cara de poucos amigos, me arrastei até o banheiro para lavar o rosto. Minha noite de sábado não havia sido uma das mais promissoras. Minha super balada se resumiu a livros de física e litros de café. O problema é que não conseguia tirar da cabeça a tal da prova de Física I no dia seguinte, por causa disso, acabei por ir dormir muito tarde.
“Mãe do céu! Quem é você?” – Tudo o que consegui pensar no momento que encarei o espelho do banheiro. A imagem realmente não era inspiradora. Olheiras e um amontoado de cabelos vermelhos apontando para todos os lados.
“legal, sou o cruzamento de um leão com um panda, que sonho de consumo”
Ainda analisando os estragos da noite de estudos no espelho, meu irmão gêmeo (sem nenhuma noção de espaço) entrou no banheiro já fazendo uma bagunça.
− Que zorra é essa?! Quer me matar do coração? Liz, você está horrível! Parece o cruzamento mal feito de um panda com um leão! – Completou rindo.
− Rá rá... Eu mesma já tinha pensado nisso. Precisa melhorar suas piadas, cabeçudo.
− Que nada, minhas piadas ainda estão ótimas, você que não sabe apreciar as coisas bonitas da vida – disse já tirando o pijama e ficando de cueca.
− Hey! Eu não quero te ver pelado! E eu entrei primeiro aqui, o banheiro é meu por direito!
− Não gostou? Me processe. – E assim terminou mais uma de nossas discussões. Não querendo ficar traumatizada pelo resto da vida, sai do banheiro e voltei ao meu quarto. Lucas é muito diferente de mim. Voltei a me jogar na cama, joguei a manta de volta na poltrona e peguei meu celular para olhar as horas, acendi o visor.
7 horas.
“MAS QUE ZORRA É ESSA?!?! POR QUE ESTOU ACORDADA ÀS 7H DA MATINA EM UM DOMINGO? Era para eu ter desconfiado... Lucas TEM que acordar cedo hoje, já que prometeu para papai que ia buscar a vovó no aeroporto... Por que eu levantei mesmo??”
Sério, preferia mil vezes virar a noite estudando do que ter que levantar cedo, fora que, caso minha mãe descobrisse que já estava em pé, viria me buscar com várias atividades que levariam toda a manhã embora. Analisando minhas opções, tornei a puxar meu lençol e voltei a dormir.

Capítulo 1.

− Lisa? Lisa? Lisa? Lisa?
Definitivamente, acordar na base de cutucões não eram a melhor forma de melhorar meu humor. Mas eu já sabia quem era, são 10 anos sendo atormentada no dia de domingo pela mesma pessoa (desde que seus pais a deixaram sair para brincar comigo).
− Bom dia, Júlia. Se eu disser que várias palavras feias surgiram na minha mente, você vai embora? – Respondi sem abrir os olhos.
− Como se você não repetisse essa ameaça a o que? 10 anos?
− É por aí.
Sentei na cama e cocei os olhos, voltei a buscar o relógio para ter certeza de que meu humor não iria melhorar.
− Sério que ainda são 8 horas? Poxa, Jú! Você sabe que minha mãe vai encarnar para eu levar o bichano para a rua!
Bichano era o cachorro da família. Nada original no nome, mas uma gracinha de Beagle.
− Nada mais justo, ele é seu!
− Negativo... Se trata de uma guarda compartilhada. É meu E do Lucas. Só que sempre sobra para mim fazer isso. Já não basta durante a semana? É a obrigação dele pelo menos nos finais de semana.
− Tá, que seja, mas ele foi buscar sua avó no aeroporto. Vamos, tome um banho e desça, tenho algo que quero te contar...
Um pouco mais animada do que às 7 da manhã, voltei me arrastando para o banheiro enrolada na manta. Não adiantava encarar o espelho novamente, pois já sabia o estado que deveria estar. Tirei a roupa e ajustei a temperatura do chuveiro para frio. Entrei de vez para lavar o cabelo. Terminado o banho, fui tentar com uma força sobre-humana desembaraçar seu cabelo. Ele não era comprido, passava um palmo do ombro. O problema é que não era liso o suficiente para desembaraçar só no olhar, nem cacheado o suficiente para ficar bonito mesmo sem passar um pente nele. Ele não tinha forma, era ondulado e formava uns pequenos “dreads” nas pontas quando não desembaraçava direito.
“Devo estar uma bagunça” – pensei enquanto terminava de passar pela cabeça uma camiseta azul com a frase “I S2 physics” na frente. Nada criativa para uma caloura no curso de Física da Universidade Federal da Bahia, afinal, apenas pessoas que REALMENTE gostavam do tema se atreviam a fazer o curso. Me enfiando em uma bermuda jeans velha que, originalmente, era uma calça de meu irmão e calçando o já surrado, diga-se de passagem, All star, passei pela cozinha e carreguei a coleira de Bichano.
-- Não vai comer, Lisa?
-- Quando voltar, mãe.
Bichano saltitava em minhas pernas, as arranhando com suas unhas finas e dificultando o trabalho de passar a coleira pela sua cabeça.
-- Fica quieto, coisa!
Milagrosamente, o cachorro obedeceu e tudo ocorreu mais tranquilamente. Saí de casa com Bichano pulando em minha frente, indo em direção a rua.
-- Vamos Jú! Quero saber a história que tem para me contar... - gritei em quanto era arrastada pelo cachorro.
Moravamos em um condomínio fechado que mais parecia um interior planejado. Tinhamos todo o tipo de comércio ali: padarias, mercadinhos, lanchonetes, farmácias... Dava para passar muito tempo sem ter que ir até a "civilização". Naquela hora da manhã a rua encontrava-se praticamente vazia, apenas alguns corajosos que saíram para comprar pão ou o jornal, ou aqueles que, como nós, tinhamos que levar nossos cachorros para fazer suas necessidades. Andamos por uns 5 minutos e Júlia não abria a boca para falar. Dava para perceber que ela estava ansiosa para dizer, mas só se eu desse o braço a torcer primeiro.
--Vamos, Júlia! Libera logo o que você quer dizer... Para de ficar me enrolando...
-- Tá, mas promete que não vai ter um ataque ou coisas do tipo.
-- Tá, que seja..
--Diga que promete! – Insistiu a garota
-- Tá, prometo! Nossa...
-- Você que pediu - começou com um sorriso - Ontem teve a festa na casa do Renan, aquela que você fez o favor de me abandonar. por causa de uma prova de não-sei-o-que-chato. Por isso tive que ir sozinha. Enfim, chegando lá, fui procurar algum rosto amigo, só para não ficar muito deslocada. E me bati com advinha quem?
--Eu pedi sem enrolação...
--Certo, mas você está de mau humor hoje, hein? Sem falar que essa sua combinação de roupas está deprimente.
Nós eramos opostas em tudo. Enquanto eu sempre fui a CDF de óculos, estudante de física, alta, desengonçada, sem senso de moda, eterno mau humor e sem traquejo social, Júlia era a linda, morena estudante de comunicação social, antenada em todas as tendências e fofocas, que deslizava ao invés de andar e cercada de amigos. O engraçado é que já nos conhecemos sendo diferentes, mas mesmo assim ficamos inseparáveis. Tudo começou quando seus pais se mudaram para casa ao lado da minha. Eu estava brincando com meu irmão na rua de bolo de lama (jogávamos um no outro) e ela chegou, toda limpinha em um vestido branco enquanto Lucas e eu já estávamos de terra até a alma. Meu irmão, por força do sexo, provavelmente, não contente em me sujar, decidiu que a nova vizinha também deveria entrar no "bolo", por isso jogou uma mão cheia no vestido da garota. Por pena, eu bati nele e fui ajudá-la a se limpar. Ela estava com lágrimas nos olhos e, segundo conta nossas mães, eu abracei ela e disse
-- Fica triste não, quando lavar fica limpinho, eu prometo, viu?
Depois disso ela vinha todo dia em minha casa para brincarmos. Foi aí que eu aprendi a brincar de Barbie e ela a jogar bola. Depois disso, começamos a frequentar o mesmo colégio e não nos desgrudamos mas. Até para a universidade iamos juntas. Era uma amizade única, já que havia sobrevivido até os 18 anos.
--Júlia... – Insisti – Anda logo com a conversa, meu cabelo já está ficando branco...
-- Ok, Ok... Enfim, me bati com aquele seu “amigo” - disse, fazendo aspas com as mãos - o tal do Flávio, aquele totalmente-excepcionalmente-unicamente gostoso que pega umas matérias com você.
--Primeiro, ele não é meu amigo, nem meu “amigo” – disse, fazendo as mesmas aspas no ar – Ele é apenas um garoto que pega umas matérias comigo.
-- Tá, que seja, mas ele é gostoso e seu eu tivesse a oportunidade, agarraria ele sem pestanejar. Mas continuando., me bati com ele na festa e acabou me reconhecendo, claro que choquei, né? Você me apresentou a ele tem um século e ele se lembrou de mim.. Fiquei logo entusiasmada! CLARO que não pularia feito uma louca naqueles braços fortes, ou arrancaria uns beijos daquela boca rosada, mas se ele desse uma oportunidade... – disse, sonhadoramente, acordando logo em seguida – O que, de fato, não aconteceu. Só me reconheceu como sua amiga, fato histórico, diga-se de passagem, pois é muito mais natural o contrário. Porém o mais surpreendente não foi isso! Ele simplesmente virou para mim e perguntou onde VOCÊ estava e porque também não estava na festa! Daí eu contei que você estava em casa tentando ser uma pessoa melhor, estudando para a prova e tal,. Ele virou e falou: “poxa, que pena, queria que ela estivesse aqui” e saiu, me deixando lá pasma!
-- Era isso que queria me contar?
-- Era! – Respondeu quase gritando – Você não está feliz? Não está vendo quantas possibilidades???
-- Feliz pelo quê? Ele estuda comigo e eu sou uma pessoa relativamente legal de se conversar, não vejo porque me empolgar como se o cara estivesse loucamente apaixonado por mim ou coisas do tipo...
-- Você é uma chata, Elizabeth! Nossa... O cara está com uma queda por você e é assim que reage? Eu mal dormir esperando para contar a notícia!
-- Você pode ter mal dormido, mas não me use como desculpas para isso... alias, que horas você dormiu? Quando eu deitei, seu carro ainda não tinha chegado..
-- Isso não vem ao caso, apesar de que eu devo ter deitado umas 4h da manhã...
-- Sério? Como você consegue?? Você está com cara de quem dormiu durante uns três anos e está completamente relaxada! - Tentei mudar de assunto, sempre funcionava. Bastava elogia-la que logo esquecia qual era a discussão.
-- Ah! Eu durmo com uns saches de chá gelado no olho... EI! NÃO MUDE DE ASSUNTO!
-- Não estou mudando... - "Droga, ela percebeu"
-- Claro que está... ah... deixa pra lá, você é chata. Vamos voltar para casa, pois sua avó já deve estar aí e eu espero que carregada de doces... De qualquer forma, Bichano não tem mais o que tirar aí de dentro.
Depois de jogar no lixo todo resíduo gerado pelo cachorro, fomos em direção a minha casa. O grande Toyota Land Cruiser amarelo do Lucas já estava estacionado na porta. Eu não tinha carro. No período que passamos no vestibular, nossos pais pediram para que escolhêssemos: o dinheiro ou o carro. O meu "carro" está totalmente guardado em uma conta poupança.
-- Vai entrar, Jú?
-- Não... Depois vou aí dar um beijo na vó.
Abri a porta que dava para a sala e tirei a coleira de Bichano, que mal via a hora para beber os litros de água que tinha no seu pote no fundo da casa. Me dirigi para a cozinha, para lavar meu rosto e mãos e, só depois, e procurar minha vó.
-- Aqui está a minha princesinha! – Disse a senhora de aparência simpática. Baixinha e roliça, com cabelos brancos curtinhos e um grande sorriso no rosto.
--Vó!! Que saudade!
Corri e a abracei, ela mal alcançava meu ombro.
-- Como foi de viagem? Alias, como foi à vinda do aeroporto até aqui? Lucas dirige como um louco!
--Não diga isso, meu anjinho foi super prudente me trazendo.
--É isso mesmo, e dirijo super bem, sua cabeçuda. – Retrucou o garoto entrando pela porta da cozinha – Vó, ela não perde a chance de me atazanar!
-- Deixem disso garotos. Vocês são irmãos, não briguem.
-- Sim vovó – dissemos em coro.
Bastou que vovó virasse para eu enfiar a mão na cabeça dele. Segurando o grito, ele virou-se para mim.
-- AU! – disse apenas fazendo o movimento dos lábios..
Alguns segundos depois, vovó retornou a cozinha com meus pais no seu encalço.
-- E então, vamos tomar café da manhã juntos ou não?
-- Mas já são 10:30, mãe – disse papai olhando para o relógio em cima da geladeira.
-- Não importa, quero tomar café da manhã com todos, o almoço pode atrasar.
Cada um escolheu uma cadeira naquele arejado cômodo e tomaram café felizes da vida.

Um comentário:

  1. Q delícia de narração, perdi a noção da hora, rs. Seu irmão parece muito com o meu, rs, um pentelhinho, mas indispensável pra boas risadas.

    A propósito, foi bem na prova?

    Beiijos

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